Rui Costa e Aline Peixoto

Mal-estar e polêmicas são ignoradas na eleição da esposa de Rui para o TCM

Política

Vitória ocorre em meio a críticas internas e externas sobre prática condenada pela sociedade

Rui virou alvo de críticas por operar em favor da esposa na corrida por vaga em tribunal de contas (Divulgação)

Após quase dois meses de polêmica e desgastes políticos, a ex-primeira dama da Bahia Aline Peixoto foi eleita na tarde de quarta-feira (8) conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), em votação secreta realizada no plenário da Assembleia Legislativa. Esposa do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), a enfermeira recebeu 40 votos no duelo direto com o ex-deputado Tom Araújo (União Brasil), escolhido por 19 parlamentares. Os quatro votos restantes, de um total de 63, foram anulados.

Embora a base governista tenha aproveitado o Dia Internacional da Mulher para comemorar a vitória de Aline Peixoto, que será a primeira conselheira na história do TCM, a oposição não poupou críticas às manobras operadas pessoalmente por Rui em favor da ex-primeira-dama. Sobretudo, porque o ministro jamais trabalhou para emplacar uma representante feminina no tribunal nos oito anos em que governou  o estado e na única vez que fez isso foi para beneficiar a própria esposa. 

Ao contrário das votações abertas, onde se usa o sistema eletrônico, a de ontem ocorreu por meio de cédulas impressas. A utilização de celulares e câmeras dentro da cabine não foi permitido. Quanto ao resultado, não se pode dizer que foi uma surpresa. Antes mesmo que os deputados começassem a votação, o presidente da Casa, Adolfo Menezes (PSD), já cravava que Aline Peixoto receberia 40 votos. 

O número representa a soma de parlamentares que fazem parte da base do governo. O que, em tese, indica que boa parte da bancada seguiu as orientações dos líderes partidários e da articulação política do Palácio de Ondina. Sabe-se que um dos quatro votos nulos foi o do deputado Hilton Coelho (Psol), que revelou antecipadamente sua opção. Dias antes, cardeais oposicionistas apostavam na votação secreta para tentar mudar o resultado, hipótese que perdeu força nos últimos dias. 

Ex-primeira-dama evita imprensa e não aparece em votação  
Interlocutores do governo na Casa afirmaram durante a sessão que Aline Peixoto iria à Assembleia após o fim da votação, mas a conselheira eleita não apareceu. Líder da base governista na Casa, o deputado Rosemberg Pinto (PT) justificou a blindagem da futura conselheira pela sua “timidez” e por ela “não ser da política”. A cerimônia de posse, segundo ele, deve ocorrer na próxima sexta-feira (10). 

Com a ausência já confirmada, a ex-primeira-dama se limitou a divulgar uma nota assim que o resultado foi anunciado, na qual agradeceu o apoio dos deputados que votaram nela. “A Bahia pode contar comigo para contribuir com todas as iniciativas necessárias para fortalecer ainda mais a corte de controle que tem, em seu histórico, o trabalho incessante em benefício da população e pela destinação responsável dos recursos pagos pelos contribuintes”, pontuou Aline no comunicado. 

Elogiado tanto por deputados governistas quanto por integrantes da oposição durante a sabatina da última segunda, Tom Araújo acompanhou toda a votação diretamente do plenário da Casa. O ex-parlamentar evitou fazer críticas públicas à adversária e manteve uma postura equilibrada durante o processo. “Tenho certeza que a sociedade sabe e tem a sua própria escolha. Os deputados são livres para votar em quem desejam. Eu me sinto honrado em ter feito parte de todo o processo e não estou constrangido, porque a vitória da urna prevalece”, afirmou.

Omissão de cargo no currículo atraiu críticas na reta final da disputa    
No currículo enviado à Casa para registrar a candidatura, Aline Peixoto citou, como grande case de gestão, o comando das Voluntárias Sociais da Bahia, a partir de 2015, quando virou primeira-dama. Enfermeira  com pós-graduação pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), a esposa de Rui omitiu no documento, contudo, o cargo comissionado que ocupava na Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). 

Pelo menos desde 2014, ela estava na folha de pagamentos da Sesab. O que inclui o período em que seu marido ocupou o cargo de governador e em que ela própria permaneceu na presidência das Voluntárias Sociais.  A omissão, assim como as demais polêmica, também ficaram de fora da sabatina e do resultado.

Deputados acompanham contagem de votos no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia
Deputados acompanham contagem de votos no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia

Escolha reacende debate sobre nepotismo
A escolha da ex-primeira-dama Aline Peixoto para um cargo vitalício que garante salário de R$ 41 mil e mordomias inerentes ao posto de conselheira do TCM, a exemplo de carro oficial e motorista, reacendeu o debate em torno do nepotismo e levou o assunto para vitrine da imprensa nacional e internacional. 

Isso por que nomeação de cônjuge para o exercício de cargo em comissão, confiança ou função gratificada na administração pública foi considerada violação da Constituição pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2008, que tornou ilegal a prática, conhecida como nepotismo. Mesmo assim, a indicação de esposas para cargos nos tribunais de contas se transforma, aos poucos, em uma tônica da política brasileira. 

Em janeiro, a ex-primeira-dama do Piauí, Rejane Dias, foi eleita para o Tribunal de Contas do Estado. Seu marido, Wellington Dias (PT), é ministro do Desenvolvimento Social do governo Lula. Os ministros dos Transportes, Renan Filho (MDB), e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes (licenciado do PDT), já chegaram ao governo com as esposas sentadas nas cadeiras de conselheiras pelos estados de Alagoas e Amapá. 

O nome de Aline foi sugestão pessoal de seu marido, Rui Costa. O que causou desgaste político dentro do próprio partido. O senador Jaques Wagner (PT) foi um dos que se declarou publicamente contrario. As críticas internas e externas, entretanto, foram insuficientes para que Rui recuasse.

“A candidata não tem preparo nem currículo para a finalidade. Sabemos claramente que é pressão política”, disparou o deputado bolsonarista Leandro de Jesus (PL), antes da votação.

Após o resultado, Alan Sanches (União Brasil), líder da oposição, contemporizou o resultado, minimizando o mal-estar sobre a escolha.  “A base do governo tinha grande maioria. Faz parte do jogo. Participamos, concorremos e venceu quem a maioria quis”, afirmou.

“O fato dela estar casada com o ex-governador não pesou na votação, isso está superado. Não houve nenhuma imposição de governo no sentido de validar a indicação dela”, disse o deputado Rosemberg Pinto (PT), líder da bancada governista na Assembleia Legislativa. 

Fonte: Correio da Bahia

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